{"id":7378,"date":"2013-04-19T11:43:21","date_gmt":"2013-04-19T14:43:21","guid":{"rendered":"http:\/\/www.putzilla.net.br\/ptz\/?p=7378"},"modified":"2015-06-05T21:18:57","modified_gmt":"2015-06-06T00:18:57","slug":"coraline-uma-hq-que-vai-muito-alem-do-filme-de-animacao","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.putzilla.net.br\/coraline-uma-hq-que-vai-muito-alem-do-filme-de-animacao\/","title":{"rendered":"Coraline: uma HQ que vai muito al\u00e9m do filme de anima\u00e7\u00e3o."},"content":{"rendered":"
Acredito que quando se fala em “Coraline”, a maioria aqui est\u00e1 mais familiarizado com o longa de anima\u00e7\u00e3o de 2009<\/a>,\u00a0escrito e dirigido por Henry Selick, ou at\u00e9 mesmo com o romance hom\u00f4nimo no qual a obra foi baseada, de Neil Gaiman<\/a>, certo?\u00a0Muito bem, numa ida \u00e0 livraria com um amigo, encontrei essa HQ, e acabei ganhando de presente! \u00a0Eu, que j\u00e1 havia adorado\u00a0o filme (e apesar de n\u00e3o ter lido – ainda!- o livro), decidi expor aqui alguns pontos que me fizeram gostar ainda mais dos quadrinhos do que da anima\u00e7\u00e3o em si. Pessoalmente, j\u00e1 vou avisando que sou \u00a0~padawan nesse universo, e estou lendo minhas primeiras obras nesse tipo de m\u00eddia, portanto, se eu soltar alguma coisa que soe estranha, podem me corrigir ali nos coment\u00e1rios, ok?<\/p>\n A HQ foi lan\u00e7ada nos Estados Unidos no final de 2007 pela HarperCollins, adaptada em textos e ilustra\u00e7\u00f5es por P. Craig Russel, e traz o mesmo plot do longa: \u00a0 \u201c Coraline e seus pais mudam-se para uma antiga casa, com vizinhos velhinhos exc\u00eantricos e am\u00e1veis que n\u00e3o conseguem dizer seu nome do jeito certo, mas que encorajam a curiosidade e o instinto de explora\u00e7\u00e3o da menina. Numa tarde chuvosa e tediosa, Coraline consegue abrir uma porta que sempre estivera trancada na sala de visitas de casa e que revela (apenas para ela) um caminho para um misterioso apartamento \u2018vazio\u2019 no quarto andar do velho casar\u00e3o. Para sua surpresa, o apartamento n\u00e3o tem nada de desabitado, e ela fica cara a cara com duas criaturas que afirmam ser seus \u201coutros\u201d pais.<\/em> O mundo atr\u00e1s da porta \u00e9 m\u00e1gico e sedutor. L\u00e1, h\u00e1 brinquedos incr\u00edveis e vizinhos que nunca falam seu nome errado, al\u00e9m de \u201cpais\u201d muito atenciosos e uma comida maravilhosa. Por\u00e9m, Coraline percebe aos poucos que aquele mundo \u00e9 t\u00e3o mortal quanto encantador, e que ter\u00e1 de usar toda a sua intelig\u00eancia se quiser sair de l\u00e1.\u201d<\/em> \u00a0<\/em><\/p>\n O primeiro ponto que percebemos ao abrir as primeiras p\u00e1ginas \u00e9 uma linguagem liter\u00e1ria muito forte no texto\/di\u00e1logos, provavelmente fazendo refer\u00eancia direta ao romance original de Neil Gaiman. A utiliza\u00e7\u00e3o dessa linguagem mais liter\u00e1ria nas falas e di\u00e1logos certamente agrada aos f\u00e3s do autor e, particularmente, n\u00e3o afetou meu fluxo de leitura.<\/p>\n <\/a><\/p>\n A personagem principal \u00e9 muito do que todos \u00e9ramos aos 11 anos: essencialmente crian\u00e7as, mas j\u00e1 carregados com uma responsabilidade de compreens\u00e3o do mundo ao nosso redor. Ela sente-se deixada de lado pelos pais, que trabalham muito duro em casa todos os dias, e assume uma postura defensiva em rela\u00e7\u00e3o a eles, quando exigem que ela seja mais independente. Quando se depara com a possibilidade de ter todos seus desejos infantis realizados com seus peculiares \u201coutros pais\u201d, ela chega no principal impasse: precisa ter um bot\u00e3o costurado em cada um de seus olhos, para continuar permanentemente naquele universo.<\/p>\n Aqui apresento o personagem que faz toda a diferen\u00e7a na HQ: O Gato. \u00c9 o gato que traz todo o senso de realidade no terror da hist\u00f3ria, conseguindo transitar entre as duas dimens\u00f5es, e \u00e9 ele que, de maneira enigm\u00e1tica e clich\u00ea dos felinos, instiga Coraline a usar sua intelig\u00eancia para descobrir por si mesma o que a \u201coutra m\u00e3e\u201d realmente trama. Esse senso de terror \u00e9 amplificado pelo realismo da arte, refletindo na aus\u00eancia de personagens caricatos no \u201cmundo real\u201d, al\u00e9m da presen\u00e7a acinzentada da neblina em quase todo o material.<\/p>\n \u00a0<\/a><\/p>\n <\/a><\/p>\n Entro agora num ponto de diverg\u00eancia de (algumas) resenhas que vi sobre o material: o fato de Coraline ser desenhada mais como uma adolescente do que como uma crian\u00e7a. Al\u00e9m do ponto de vista biol\u00f3gico, onde vemos algumas meninas de 11 anos desenvolverem-se mais r\u00e1pido naturalmente, a personagem precisa crescer. \u00c9 o que mais diferencia a HQ do longa de anima\u00e7\u00e3o, a aura decididamente mais madura da obra. Coraline retrata essa fase de transi\u00e7\u00e3o for\u00e7ada, e as reflex\u00f5es e atitudes da personagem no desfecho da hist\u00f3ria refletem isso.<\/p>\n <\/a><\/p>\n Muito mais do que um universo azulado em stop-motion pensado para um p\u00fablico livre de censuras (que por sinal respeita a trama infantil do romance original e tem grande valor em sua categoria), esta HQ apresenta um vi\u00e9s muito mais sombrio e eletrizante, exigindo um n\u00edvel de maturidade um pouquinho maior de quem a consome, mas ainda sem perder a deliciosa aura de inoc\u00eancia que a obra carrega. No Brasil, \u00e9 editada pela Rocco<\/a>, em edi\u00e7\u00e3o capa dura com 192 p\u00e1ginas. Quem quiser conhecer mais da obra, pode conferir um preview at\u00e9 a p\u00e1gina 38 no site da pr\u00f3pria HarperCollins<\/a> (em ingl\u00eas).<\/p>\n <\/p>\n