{"id":6905,"date":"2013-03-22T15:57:32","date_gmt":"2013-03-22T18:57:32","guid":{"rendered":"http:\/\/www.putzilla.net.br\/ptz\/?p=6905"},"modified":"2015-04-27T22:04:35","modified_gmt":"2015-04-28T01:04:35","slug":"nerds-de-paria-a-pop","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.putzilla.net.br\/nerds-de-paria-a-pop\/","title":{"rendered":"Nerds: de P\u00e1ria a Pop"},"content":{"rendered":"

Muitos de voc\u00eas, assim como eu, t\u00eam percebido ao longo dos anos o aumento da valoriza\u00e7\u00e3o no pertencer \u00e0 tribo “Nerd<\/strong>“. S\u00e3o v\u00e1rios os ambientes onde as caracter\u00edsticas que antes eram estigmatizadas agora se tornam populares e dignas de nota. Vemos cada dia mais a sua influ\u00eancia na m\u00fasica e arte, mas suas marcas est\u00e3o principalmente na cultura popular onde o conceito dilui-se e acaba trazendo perguntas como: “Afinal, o que \u00e9 ser Nerd<\/strong>?”.<\/p>\n

Inicialmente o termo foi criado para descrever pessoas com elevado potencial intelectual mas com dificuldades nas rela\u00e7\u00f5es interpessoais, principalmente ao n\u00e3o serem populares ou n\u00e3o obedecerem os padr\u00f5es sociais de comportamento. Quotando Paul Graham: –\u00a0“Existe uma rela\u00e7\u00e3o entre ser esperto\/inteligente e ser nerd, ou melhor, h\u00e1 uma correla\u00e7\u00e3o inversa maior ainda entre ser nerd e ser popular. Ser esperto parece fazer a pessoa n\u00e3o popular”<\/em>. Eram aqueles que eram p\u00e9ssimos em esportes, solit\u00e1rios e ocasionamente sofriam\u00a0bullying<\/em> em virtude disso.<\/p>\n

\"Nerd\"<\/a><\/p>\n

Ao longo do tempo esse conceito acabou se tornando mais abrangente e, por consequ\u00eancia, menos preciso. Atualmente aplica-se a terminologia\u00a0Nerd<\/strong> de maneira folgada, confundido-o com CDF<\/strong>, Gamer <\/strong>e\u00a0Otaku<\/strong>, entre outros. Definir o que \u00e9 cada um n\u00e3o \u00e9, nem de perto, meu intuito nesse texto. Mas \u00e9 sim abordar que o fen\u00f4meno mais interessante talvez tenha sido passar de uma p\u00e1ria<\/em> social diretamente \u00e0 pop<\/em>. Se antes era um xingamento, hoje chega a ser uma ofensa aos adolescentes n\u00e3o serem considerados pelo menos em parte pertencentes ao grupo Nerd<\/strong>. Sim, aos adolescentes<\/em>.<\/p>\n

\u00c9 uma caracter\u00edstica comum ao Homo sapiens,\u00a0<\/em>primata b\u00edpede n\u00e3o-caudado greg\u00e1rio que \u00e9, a necessidade de pertencimento<\/strong>. Precisamos de apoio social, de seguran\u00e7a simb\u00f3lica, de confian\u00e7a em nossos pares, ou seja:\u00a0pertencer a um grupo<\/strong>. \u00c9 uma necessidade b\u00e1sica para a nossa sobreviv\u00eancia, trazida dos outros g\u00eaneros Homo, <\/em>nossos antepassados. Mas no ambiente das selvas urbanas, de saltos culturais entre pais e filhos, de expectativas e responsabilidades tremendas, torna-se mais dif\u00edcil a identifica\u00e7\u00e3o de grupo – principalmente no per\u00edodo da adolesc\u00eancia. Momento marcado por profundas mudan\u00e7as emocionais e org\u00e2nicas onde o instinto de tribo grita mais alto, onde procurar por seus semelhantes \u00e9 necessidade irremediavelmente gritante, ao ponto de ser definidor das nossas personalidades. \u00c9 comum nessa idade perdermos nossa refer\u00eancia pessoal de identidade para a refer\u00eancia social de tribo<\/em>.<\/strong> Deixamos de ser Fulano<\/em> ou Fulana<\/em> para nos tornamos Rockeiros, Metaleiros, G\u00f3ticas, Patys, CDFs, Boleiros, Clubbers, Punks, Praieiros, Skatistas, Vileiros<\/em>… at\u00e9 Nerds<\/em>!<\/p>\n

\"Tribos<\/a><\/p>\n

A grande diferen\u00e7a \u00e9 que atualmente as caracter\u00edsticas definidoras modernas (e discut\u00edveis) do Nerd<\/strong> – gostar de jogos de computador, desenhos, HQs, super-her\u00f3is, livros de fantasia etc. – est\u00e1 presente em uma enorme maioria da popula\u00e7\u00e3o. Dif\u00edcil achar um adolescente ou jovem adulto que n\u00e3o goste de pelo menos um desses assuntos. De exclu\u00eddos socialmente, os nerds se tornaram verdadeiros coringas sociais – canso de ver membros de tribos totalmente diferentes terem um assunto em comum discutindo um jogo ou um filme. A cultura moderna \u00e9 inundada de refer\u00eancias ao virtual, ao fantasioso e ao fict\u00edcio, nada al\u00e9m de natural as caracter\u00edsticas nerds se tornarem muito mais difundidas. De dois de paus passaram a ser verdadeiros \u00e0ses de espadas.<\/p>\n

H\u00e1 quem ache isso ruim. Vejo muita reclama\u00e7\u00e3o de que agora qualquer um \u00e9 nerd: qualquer um pode colocar \u00f3culos e morder controle de XBOX. E \u00e9 verdade. A cultura nerd deixou de ser privil\u00e9gio (ou deveria dizer maldi\u00e7\u00e3o<\/em>, sendo fiel ao termo original?) de poucos e se tornou pertencente \u00e0 base de quase todas as tribos. Ter medo disso n\u00e3o \u00e9 nada mais do que aquela supracitada necessidade adolescente de identifica\u00e7\u00e3o social. – “Mas pera a\u00ed, se qualquer um pode ser nerd, quem sou eu<\/strong>?”<\/em> \u00e9 a pergunta que est\u00e1 por tr\u00e1s desse medo, dessa xenofobia ativista pela defini\u00e7\u00e3o das caracter\u00edsticas da tribo, pela exclus\u00e3o de membros pertencentes \u00e0 outras. – “Eu sou um verdadeiro nerd, n\u00e3o voc\u00ea, seu poser!”<\/em> \u00e9 o que gostariam de gritar aqueles que t\u00eam pouca refer\u00eancia interna de identidade. Deixam de perceber que ser nerd e pop pode ser uma coisa extremamente legal, s\u00f3 decidir valorizar mais os lados positivos das duas coisas!<\/p>\n