{"id":6558,"date":"2013-02-27T16:00:40","date_gmt":"2013-02-27T19:00:40","guid":{"rendered":"http:\/\/www.putzilla.net.br\/ptz\/?p=6558"},"modified":"2015-04-27T21:59:02","modified_gmt":"2015-04-28T00:59:02","slug":"dinheiro-traz-felicidade","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.putzilla.net.br\/dinheiro-traz-felicidade\/","title":{"rendered":"Dinheiro traz Felicidade?"},"content":{"rendered":"

Esses s\u00e3o dois dos termos que talvez n\u00f3s mais entremos em contato ao longo das nossas vidas. Somos cidad\u00e3os em um pa\u00eds de governo democr\u00e1tico cuja economia \u00e9 baseada no sistema capitalista, que por sua vez existe em um sist\u00eamico mundo globalizado apoiado na pol\u00edtica do consumo. Por outro lado somos nada al\u00e9m de meros Homo sapiens<\/em> que, em virtude de uma magn\u00edfica ironia da natureza, desenvolveram consci\u00eancia complexa o suficiente para criar um conceito de bem-estar al\u00e9m do mero \u201ccomer e procriar\u201d.\u00a0 O dinheiro \u00e9 mais f\u00e1cil de compreender, mas acredito que seria proveitoso expandir um pouco o conceito da tal da felicidade \u2013 aquela que procuramos sem muitas vezes saber como se parece seu rosto.<\/p>\n

Em 29 de junho do ano passado foi aprovada pela assembl\u00e9ia geral da ONU (Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas) a inclus\u00e3o do Dia Internacional da Felicidade<\/strong> em seu calend\u00e1rio oficial. \u2013 \u201cA busca pela felicidade \u00e9 um objetivo humano fundamental\u201d<\/em> diz a resolu\u00e7\u00e3o que passou com unanimidade pelos 193 membros da bancada. Ah sim: o dia \u00e9 20 de mar\u00e7o. Agora temos at\u00e9 um dia oficial para estar feliz, s\u00f3 falta saber o que \u00e9 e como chegar l\u00e1!<\/p>\n

\"Conf\u00facio\"<\/a><\/p>\n

H\u00e1 mil\u00eanios essa pergunta vem assolando a mente humana; desde profetas e fil\u00f3sofos, passando por cientistas at\u00e9 chegar em n\u00f3s, esse nosso objeto de busca faz-se nebuloso e constantemente mut\u00e1vel:\u00a0\u2013 “Qual a subst\u00e2ncia da Felicidade?”<\/em>.\u00a0Dizia certa vez Zaratustra<\/strong> quando questionado sobre ela: \u2013 \u201cA felicidade persegue-me. Deve-se isto a eu n\u00e3o correr atr\u00e1s das mulheres. Que a felicidade \u00e9 mulher\u201d<\/em>. Postulava ent\u00e3o que a felicidade \u00e9 algo que tem exist\u00eancia e vontade pr\u00f3prias, aproximando-se por atra\u00e7\u00e3o, ao passo que caso persiga-a, foge-lhe do alcance. Ela existe e habita onde for bem-vinda, n\u00e3o onde for ca\u00e7ada e encarcerada<\/em>.<\/p>\n

O meu fil\u00f3sofo favorito K\u2019ung-fu-tzu ou Conf\u00facio<\/strong>, dizia que \u201ca Felicidade resulta de um car\u00e1ter reto, uma consci\u00eancia tranquila e um cora\u00e7\u00e3o pacificado\u201d<\/em>. Trazia principalmente a felicidade como um caminho baseado na plena viv\u00eancia de todas as possibilidades de exist\u00eancia<\/em>. Um car\u00e1ter reto \u00e9 aquele adequado \u00e0 circunst\u00e2ncia natural, male\u00e1vel como bamb\u00fa mas com raizes fortes. A consci\u00eancia tranquila seria fruto da simplicidade da sabedoria verdadeira, aquela que permite que tudo seja uma ocorr\u00eancia natural. O cora\u00e7\u00e3o pacificado ent\u00e3o seria resultado da unifica\u00e7\u00e3o com o Tao e livre de amarras eg\u00f3icas que enrigessem a exist\u00eancia. \u00c9, ele nunca foi muito bom em ser claro, n\u00e3o se desespere caso n\u00e3o tenha entendido! Parte da escol\u00e1stica confuciana \u00e9, ironicamente, \u00a0propositalmente confusa.<\/p>\n

J\u00e1 Sigmund Freud<\/strong>, psiquiatra austr\u00edaco fundador da escola Psicanal\u00edtica e criador dos seus conceitos basilares como o inconsciente, defendia um conceito chamado \u201cPrinc\u00edpio do Prazer\u201d<\/em>. Atrav\u00e9s dele, basicamente e sem entrar nos detalhes do princ\u00edpio da morte, o indiv\u00edduo seria movido pela eterna busca pela felicidade e satisfa\u00e7\u00e3o pessoal. Todavia o indiv\u00edduo v\u00ea-se existindo no mundo real<\/em>, onde experiencia fracasso e dor, impedindo-o permanentemente de atingir o estado de gra\u00e7a imaculada. Tudo que ele conseguiria ent\u00e3o, seria uma felicidade parcial e limitada<\/em> frente ao seu conceito perfeito idealizado. Fadados estar\u00edamos ent\u00e3o \u00e0 insatisfa\u00e7\u00e3o, todavia podendo experienciar essas menores formas de bem-aventuran\u00e7a.<\/p>\n

\"Felicidade<\/a><\/p>\n

Depois de trazer essas tr\u00eas vis\u00f5es diferentes, podemos concluir algo que muitos j\u00e1 t\u00eam como resposta: a felicidade \u00e9, sobretudo, relativa<\/em>. Muito dif\u00edcil limitar as caracter\u00edsticas necess\u00e1rias ao seu plantio. Consigamos talvez, por\u00e9m, definir com mais facilidade os elementos que dificultariam seu florescimento: dor, sofrimento, ang\u00fastia e ansiedade s\u00e3o alguns deles. Eles seriam como antagonistas naturais da nossa t\u00e3o idealizada felicidade e, mesmo sendo de natureza relativa, podemos com facilidade prever que o sofrimento, por exemplo, limitaria quase qualquer uma das variantes pessoais. Fica meio dif\u00edcil identificar o rosto do prazer quando imerso em um po\u00e7o de infelicidade.<\/p>\n

Sendo assim chegamos ao dinheiro. Como ele pode comprar felicidade sendo que, ela pr\u00f3pria, j\u00e1 \u00e9 de natureza t\u00e3o confusa e et\u00e9rea? Jazeria ela em um carro novo, em um celular moderno, talvez? Numa roupa de grife ou num cachorro-quente daquela barraquinha que tanto gostas? Seria o pobre ent\u00e3o, infeliz ou incapaz de buscar sua felicidade, princ\u00edpio t\u00e3o defendido pela constitui\u00e7\u00e3o dos Estados Unidos da Am\u00e9rica? Dif\u00edcil dizer ao certo.\u00a0Temos exemplos de grandes pessoas que renegaram a vida de consumo e dedicaram-se \u00e0 humildade e \u00e0s outras pessoas: Gandhi<\/strong> e Madre Tereza<\/strong> s\u00e3o exemplos conhecidos e que viveram, at\u00e9 que provem o contr\u00e1rio, felizes. Mas somos pessoas de carne-e-osso, a final, e nem todos partilhamos o her\u00f3ico caminho do altru\u00edsmo. Vivemos na sociedade e poucos de n\u00f3s escolhem reneg\u00e1-la, temos portanto que sobreviver nos padr\u00f5es por ela delimitados \u2013 sendo o dinheiro fator inegavelmente basilar.<\/p>\n

\"P\u00f4r-do-Sol\"<\/a><\/p>\n

N\u00e3o \u00e9 ao certo, portanto, que dinheiro nos v\u00e1 trazer felicidade. Ela tem muitas faces, algumas delas suscet\u00edveis ao consumo, sem d\u00favida, e outras tantas totalmente fora do seu alcance. \u201cAlgumas coisas n\u00e3o t\u00eam pre\u00e7o\u201d<\/em> como dizia o slogan<\/em> de uma conhecida empresa de cr\u00e9dito. E \u00e9 a mais pura verdade.<\/p>\n

Ainda assim, ter dinheiro nos poupa de lidar com sofrimento e com a ang\u00fastia. T\u00ea-lo nos livra da fome, nos d\u00e1 um teto sobre as cabe\u00e7as, nos d\u00e1 conforto nos dias quentes ou frios. Permite-nos manuten\u00e7\u00e3o da sa\u00fade adequada, tanto f\u00edsica quanto emocional, e permitem tamb\u00e9m o contato com os pequenos prazeres que fazem a nossa vida mais saborosa. Permite-nos certo conv\u00edvio social e paz de esp\u00edrito para aproveit\u00e1-lo com tranquilidade.<\/p>\n

Dinheiro, ent\u00e3o, n\u00e3o traz felicidade<\/strong>. Mas definitivamente afasta alguns dos nossos sofrimentos ou ang\u00fastias mais comuns e aos quais estamos \u00e0 merc\u00ea na era moderna. Cabe a n\u00f3s a manuten\u00e7\u00e3o do equil\u00edbrio: trabalhar por dinheiro suficiente para nos garantir a condi\u00e7\u00e3o b\u00e1sica para que, com maior tranquilidade, possamos buscar nossa felicidade: tenha ela a identidade que tiver.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Esses s\u00e3o dois dos termos que talvez n\u00f3s mais entremos em contato ao longo das nossas vidas. Somos cidad\u00e3os em um pa\u00eds de governo democr\u00e1tico cuja economia \u00e9 baseada no sistema capitalista, que por sua vez existe em um sist\u00eamico mundo globalizado apoiado na pol\u00edtica do consumo. 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