Por muitos anos fui fã de carteirinha da série Total War. Fui doutrinado lá nos idos de 2005 por Total War: Rome que digo com sinceridade: joguei até há alguns meses atrás e ainda adoro. Na época foi um estouro, lembro que meu PC rodava com tudo no mínimo e pasmem: digo “rodava” por não haver termo melhor. De qualquer maneira hoje ele é limitado, feio, mas ainda assim conta com uma boa simulação do que pretendia. A expansão, diga-se de passagem, era genial.
Aí veio Napoleon, que eu não joguei muito simplesmente por ter achado batalhas de voleio de mosquete muito chatas – meu negócio é parede de escudos, cavalaria pesada e artilharia (a única parte que salvava o game, canhões são amor). Logo depois veio Shogun, que foi realmente sensacional. Apesar de eu não entender a forma dos japoneses fazerem guerra com aquelas unidades, a AI era de fato inteligente, era lindo e não tinha problemas gráficos, a campanha era muito interessante e difícil. Tudo que Total War: Rome II falhou em ser.
“Vim, ví, vencí” é uma célebre frase de Gaius Julius Caesar ao vencer a batalha contra o filho de Mitríades, Farnaces, que havia retomado a rebelião na região da Grécia. Foi uma campanha tão rápida e decisiva, mesmo com números tão reduzidos do lado romano, que a frase acabou sobrevivendo ao tempo. Talvez o segredo tenha sido finalmente revelado: Farnaces era controlado pela AI de TW:R2. Assista pelo menos aos dois primeiros minutos do vídeo abaixo:
Outro problema tem sido referente à parte gráfica. Frames quebrados, taxas instáveis e shaders pesadíssimos têm acabado com a experiência de jogo de vários usuários. Qual o motivo de tantos problemas? Meu palpite jaz numa doença.
Desde o final do ano passado a SEGA sitiou os quartéis generais da Creative Assembly, com a premissa que o jogo deveria receber mais atenção e ter seu lançamento adiantado. Por vários meses o cerco continuou e, como é comum nesses tipos de situações, várias doenças acabaram se espalhando. Uma delas é a comum “Febre do Jogo Inacabado”. Total War: Rome II não está pronto mas mesmo assim foi lançado. Já foram emitidos três patches oficiais desde o lançamento até a data que escrevo essa matéria, e bugs continuam sem solução. Outra síndrome que assolou esse novo título da franquia foi a da sensação de Arcade. Costumava ser uma simulação, hoje temos habilidades especiais pra cada unidade, que possuem cooldown (!!) e batalha-se em um campo onde dominamos pontos estratégicos (mesmo que eles não existam de fato).
Sim, se colocarem “mana” nas unidades deixa de ser um RTS e vira um MOBA, precisamente.
Rome II é um jogo ruim? Não totalmente. É um jogo que não teve oportunidade de ser completado e, aliado a isso, padeceu da mania de deixar jogos fáceis demais, mastigados demais, simples demais. Mesma condição partilhada por Skyrim, por exemplo. Quem jogou Morrowind ou Oblivion entenderá de onde vem o ponto-de-vista. Isso deixa o jogo ruim? Não exatamente. Mas deixa um certo ar de frustração pra quem desejava uma experiência mais desafiadora. O prólogo da campanha é muito bom, cenários e vozes são geniais – fora que poder comandar legiões romanas é sempre emocionante! Texturas incríveis e gráficos alucinantes dão um ar de detalhe pro jogo, aliados a uma qualidade sonora sem igual, deixam a imersão com níveis descomunais. Só faltava fazerem isso na jogabilidade como no Total War: Rome de 2005.
É um jogo que vale a pena ser comprado? Sim. Fãs de estratégia em geral como eu tendem a se render aos prazeres da série Total War e esse título não seria diferente. Ainda assim me lembro de algo que meu avô me disse certa vez: “Yuri, nunca compre um modelo de carro que acabou de ser lançado. Ele sempre vem cheio de problemas e defeitos de projeto que, ao longo do tempo, vão sendo corrigidos. Chega um momento que o carro sai de fábrica já ajustado e aí sim vale a pena comprar”.
Minha sugestão é seguir a sabedoria do meu avô. Espere que a Creative Assembly termine Total War: Rome II e aí então pode comprar e aproveitar o jogo sem dor-de-cabeça! Quem sabe final-do-ano não rola uma promoção, inclusive?
Se Júlio César foi, viu e venceu, Rome II veio pela metade, viu meio cego e corre riscos de perder, e muito, caso não se dediquem de verdade à finalização de uma das mais consagradas franquias do gênero.