Outro dia zapeando pelos canais da TV em um domingo à tarde – único dia da semana em que consigo parar em frente à TV aliás – me deparei com Justin Bartha, tenho uma simpatia pelo ator desde A lenda do tesouro perdido e achei se tratar de mais um filme então me aconcheguei no sofá e observei. E qual não foi minha surpresa quando vi que se tratava de uma série e não um filme!
A cena se passava entre ele e Andrew Ranellis (Quatro amigas e um casamento) e eles discutiam sobre serem pais. Parem as máquinas, abaixem o volume da música e se liguem na sinopse:
David (Justin) e Bryan(Andrew) vivem juntos há alguns anos e decidem que é hora de um passo importante na relação, eles querem ser pais, mas querem um filho deles e a melhor maneira de resolver esse pequeno detalhe é com uma barriga de aluguel, é aí que entram Goldie (Georgia King de A duquesa) e Shania (Bebe Wood de 30 Rock), mãe e filha buscam uma oportunidade de mudar de vida e finalmente se tornarem independentes de Nana/Jane (Ellen Barkin de O despertar de um homem) a avó de Goldie que não perde uma oportunidade de se apontar os erros da neta como ser mãe solteira, não ter terminado os estudos e etc.
Decidida, Goldie aceita ser a barriga de aluguel do filho de Bryan e o casal decide que, para que eles possam a companhar a gravidez em todos os estágios, ela e Shania devem se mudar para a casa deles.
Eu sei que vocês estão pensando ok, mais uma série de comédia sobre homossexualidade e mães solteiras, mas o fato é que a série abora assuntos tão debatidos atualmente de uma maneira totalmente diferente, nos mostrando uma relação de verdadeiro amor entre David e Bryan, os preconceitos sofridos por eles, por Goldie por ser uma mãe solteira, até mesmo a secretária negra de Bryan – Rocky tem seus momentos de perrengue e a cada episódio uma nova abordagem sobre como nos comportamos diante de situações tão comuns que ainda são um tabu na sociedade em que vivemos. Ora, é fato que estamos mais à vontade com a homossexualidade, mas quantas pessoas ainda torcem o nariz ao ver um casal do mesmo sexo andando de mãos dadas pelo shopping?
Será que somos tão moderninhos como pensamos?
Vale um destaque especial para o episódio do Gaydar da Shania que descobre uma habilidade especial em acertar a sexualidade de uma pessoa apenas observando seu comportamento e o episódio do mamaço organizado por Bryan pra que uma amiga tenha a liberdade de amamentar sua filha recém nascida em público – isso não te soa familiar? Em 2011 houve um mamaço em protesto no Itaú Cultural por que uma mãe se sentiu ofendida ao ser abordada por um segurança do local quando amamentava sua filha, o segurança sugeriu que ela fosse até uma sala qualquer alegando que ela se sentiria mais à vontade longe dos olhos curiosos, pra quem não se lembra fica o link da matéria.
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/915030-em-protesto-maes-promovem-mamaco-em-sao-paulo.shtml
A série aborda temas atuais, de maneira clara e bem humorada, mas também tem seus dramas como quando Shania descobre que não foi amamentada e se sente inferior aos colegas de escola mesmo sendo a mais inteligente da turma, ou Nana e seu preconceito escancarado com todos em seu caminho, é uma boa reflexão sobre o momento em que vivemos onde o que antes era um escândalo hoje é corriqueiro e nos vemos forçados a reconsiderar nossos valores para não ferir a liberdade do próximo, será que realmente aceitamos o diferente? Até que ponto somos tolerantes ao novo?
São questões recorrentes e que muitas vezes só fazem sentido quando sentimos na pele a rejeição, as ofensas e a dúvida sobre assumirmos quem somos e aguentar as consequências ou nos esconder por trás de uma convenção social que nos faça parecer exemplos, infelizmente nem sempre o melhor é o caminho mais fácil.
Esse artigo é uma colaboração de Cal Bueno.