RPG Nacional, o mercado brasileiro nunca esteve tão bom

Que atire a primeira pedra o jogador e mestre que nunca se aventurou em criar seu próprio sistema, eu mesmo já tive minhas aventuras com adaptações de sistemas e uma vez tivemos um membro do grupo que gerou em poucos minutos regras básicas para jogar um RPG baseado em Cavaleiros do Zodíaco, apenas para participar das muitas mesas de um evento de RPG. O objetivo do RPG é diversão, e como diz Marcelo Cassaro “se você não está se divertindo não esta jogando direito”, o caminho é mais que valido.

Mas e quando o sistema começa com uma “adaptação” de um pequeno grupo, um interesse particular ou uma simples criação pela difícil aquisição do estilo no mercado internacional e ganha espaço entre as prateleiras de tantos livros traduzidos e importados de fora? Quando o Brasil resolve por a mão na massa e mostrar que também produzimos RPGs de qualidade, se não tanto melhor, muitos dirão que o RPG nacional está em crise já que há tempos estamos sem novos suplementos traduzidos… eu digo que não ‘o mercado brasileiro nunca esteve tão bom’.

Jambô: Começamos pela própria empresa Jambô. Lembro-me de quando a conheci através de um pequeno suplemente para o sistema D20 intitulado ‘Backdrops – Panos de Fundo’. Foi muito elogiado na época, e realmente devo dizer que começaram com o pé direito, porque logo em seguida tivemos uma enchente de traduções, ótimas escolhas e pontualidade da empresa com seus produtos… Mas o dedo no mercado brasileiro do RPG começou com os lançamentos de Tormenta, já bem conhecido pelos jogadores daqui, que não imaginavam o que essa empresa estava preparando.

 

3D&T Alpha – 3D&T teve tanto sucesso na época da Dragão Brasil que o Editor Marcelo Cassaro acabou ressuscitando o mesmo na Jambo, e inclusive fazendo algo incomum para os sistemas do gênero, liberando-o para ser baixado gratuitamente. 3D&T Alpha mantem a premissa antiga, um rpg baseado em mangás, quadrinhos e video games, seu sistema é simples, suas regras claras e serve para gerar qualquer aventura em pouco tempo, não é tão bom a longo prazo (como pude confirmar) mas, em minha opinião, é o melhor RPG para se começar ou para bagunçar em uma tarde qualquer.

http://www.jamboeditora.com.br/produtos/3d&t.htm

 

Tormenta RPG – Durante muito tempo o cenário Tormenta utilizou vários sistemas de regras. É difícil citar aqui porque realmente ele passou por várias adaptações, que foi sofrendo no decorrer das edições da revista Dragão Brasil. Mas um dia resolveram arregaçar as mangas e definir um sistema próprio dentro da editora Jambô, a escolha foi mais do que acertada e hoje temos o Sistema (baseado na regra OGL de D20) Tormenta RPG. Esse talvez tenha sido o cenário Medieval mais proeminente no Brasil, é difícil encontrar alguém que não tenha jogado ou que não conheça um de seus personagens. Arton ganhou vida e se tornou um mundo próprio em constante expansão como os editores gostam de deixar bem claro quando falam do cenário. Suas regras seguem o mesmo estilo de D&D 3.5, mas com uma roupagem melhorada (assim como Pathfinder), tanto que vejo muitos jogos hoje em dia usando cenários americanos, mas com as regras de Tormenta RPG. Pode ser que lá fora os jogadores de fantasia medieval estejam desamparados, mas aqui estamos muito bem cuidados, em especial para aqueles que não quiseram migrar para o novo sistema 4.0 de D&D, com vários suplementos sendo lançados em sequencia.

http://www.jamboeditora.com.br/produtos/trpg.htm

 

Redbox: Conheci essa empresa como uma loja online apenas, indicada inclusive pela Jambô, mas com o tempo começou a trabalhar com traduções, mas um dos projetos deles merece minha citação aqui que é por curiosidade um dos principais motivos de ter feito essa matéria.

 

Space Dragon – Sistema feito em cima das regras do Old Dragon, eis o porquê do nome. Trabalha com a temática de Ficção cientifica, mas não aquela que estamos acostumados nos dias atuais e sim com a visão de ficção pulp dos anos 50. Robôs em pane, heróis em roupas de astronauta e armas de raio laser, pessoas com poderes psíquicos, alienígenas com roupa de borracha, eis o clima de Space Dragon. Realmente esse clima é o desejo de muitos velhotes que cresceram assistindo esses tipos de seriados nas muitas reprises feitas pela tevê, eu mesmo tenho grande curiosidade em tentar esse sistema qualquer hora.

http://redboxeditora.com.br/spacedragon/

 

Retropunk: A primeira vez que ouvi falar dessa editora foi devido ao Cenário Rastro de Cthulhu que seria traduzido para o Brasil, mas o editor Guilherme Moraes talvez não imaginasse o que estava pretendendo quando começou. Atualmente a Retropunk vem sendo a empresa com maior quantidade de sistemas “indies” sendo lançado a “minutos” e todos com qualidade excepcional, mas não para só nisso, todos os sistemas também “indies” (odeio esse termo no RPG) vindos de fora estão recebendo ótimos cuidados, enquanto a tempos atrás quase não se viam sistemas, longe dos clássicos D&D, Storyteller e GURPS, hoje fica até difícil se decidir por um cenário e regras. E isso é ruim? Não, claro que não.

 

Abismo Infinito – Meu xodozinho dos RPGs atuais, criado por John Bogéa, Abismo Infinito foi vencedor do “Concurso faça você mesmo” de 2011 na Secular Games. O cenário apresenta o horror no espaço, seu sistema é tão simples e ao mesmo tempo tão complexo que vejo meus jogadores se apegarem mais aos seus personagens do que eles fazem preenchendo números e bolinhas na ficha. A melhor definição para esse RPG, para quem não esta acostumado, seriam filmes como Enigma do Horizonte ou mesmo o clima de tensão de Alien – o oitavo passageiro. O livro inteiro foi escrito e diagramado pelo autor e suas imagens, devo dizer, são as melhores que já vi em um livro de RPG atual, porque faz você mergulhar de cabeça mesmo no que o RPG propõe.

http://www.rpstore.com.br/18-abismo-infinito-quick-start.html

 

A Fita – Ainda nem foi lançado e já estou roendo as unhas na espera desse sistema, porque pergunta você leitor, dois motivos: 1. O sistema é narrativo em grupo, ou seja, sem mestre, é o mesmo modelo usado em Fiasco, todo mundo jogando entre si para gerar um enredo, todos são mestres (ainda que tenha um que será o responsável para não dar caca como sempre); 2. Terror no formato Bruxa de Blair, REC e Diario dos Mortos, ou seja, pessoas descobrindo o que aconteceu naquela fita “encontrada” por todos da mesa. A ideia por si só é muito boa e bem usada, conhecendo meus jogadores coisas absurdas podem acontecer e sendo jogador antigo de pérolas como Once Upon a Time, já estou no aguardo ansioso por um RPG nesse modelo.

http://www.rpstore.com.br/38-a-fita-playteste.html

 

Cosa NostraCosa Nostra é um jogo narrativo sobre a Máfia. Nele, os jogadores controlam uma organização criminosa e criam uma história memorável de ambição, violência e glamour na América dos anos 30. Essa é a descrição dada para o jogo, não tive oportunidade de testa-lo, mas o jogo segue o mesmo molde de ‘A Fita’ com os jogadores trabalhando em conjunto para definir a historia no caso a máfia que eles pretendem encarnar. Não tive oportunidade de abusar desse sistema, mas para quem gosta de historias envolvendo a máfia, coisa pouco utilizada no mundo do RPG acaba sendo uma boa pedida, pois o playtest apresenta varias descrições sobre o funcionamento da máfia nos anos 30, algo pouco explorado em RPGs que também contam com a presença da mesma.

http://www.rpstore.com.br/43-cosa-nostra-playteset.html

 


Terra Devastada – Fãs de Walking Dead deleitem-se, primeiro trabalho de John Bogéa, Terra Devastada apresenta o mundo da sobrevivência perante um apocalipse zumb. O sistema abusa mais da imaginação do jogador que de sistema de regras em si, você cria as características da pessoa como, por exemplo, “Insensível” ou “Nasci com uma escopeta na mão” essas mesmas características podem lhe render vantagens ou desvantagens dependendo da situação que seu personagem se encontre, há outras características que funcionam de forma semelhante, mas o sistema em si é simples e bem autoexplicativo, e mortal para os jogadores como qualquer serie ou filme envolvendo mortos vivos, então aguarde por baixas durante a aventura.

http://www.rpstore.com.br/31-terra-devastada-quick-start.html

 

Secular Games: Principal responsável pelo “Concurso faça você mesmo” a Secular Games anda dando grande valor para o jogo independente e criativo, quase a mesma premissa da Retropunk de variar o mercado brasileiro com produtos criativos e de ótima qualidade. Não tenho grandes conhecimentos por essa empresa, acabei esbarrando nela devido ao Violentina.

 

Busca Final – “Um jogo de Narrativa Épica de Fé, Conhecimento e Jornada”, o projeto criado por Giltônio Santos e Richard Garrell tem uma premissa bem incomum como pode parecer de inicio, os personagens “não são tão importantes” quanto a historia, é como se você fosse um diretor de um seriado,normalmente um jogador assumira a forma como narrador, podendo inclusive assumir o papel de outros personagens para o andamento da aventura. No geral Busca Final é um RPG narrativo que conta a historia de um grupo escolhido pelos jogadores que narrarão sua historia em busca de algo que mudará suas vidas para sempre e suas historias continuarão através das eras, a melhor definição aqui fica o conto de Frodo Bolseiro e o Um anel. Busca Final utiliza cartas de baralho ao invés de dados, o chamado aqui de “baralho do destino”, os números serão os Presságios e as imagens Revelações, mas para entender só lendo mesmo o sistema.

http://www.secular-games.com/2011/03/busca-final/

 

Violentina – Talvez entre todos os que foram apresentados aqui mereça um reconhecimento maior por ter sido o primeiro RPG que surgiu graças a um financiamento coletivo. Violentina, criado por Eduardo Caetano, traz para as mesas o formato dos filmes Pulps, ação desenfreada e cenas dantescas muito utilizadas em especial por Quentin Tarantino, porque não. Violentina é outro RPG utilizando o sistema sem mestre, ou como o próprio autor diz “onde todos são mestre” (o que alias começo a achar que é a nova tendência no mundo do RPG daqui em diante), com uma situação a mais, utiliza-se cartas de baralho, ok isso não é nenhuma novidade dentro do mundo do RolePlaying (o próprio Busca Final abusa disso), mas o autor citou algo que achei interessante na descrição do porque utilizar: “Gangsteres e trapaceiros com fichas de pôquer na mão, um charuto no canto da boca e o destinos de suas vidas, decidido nas cartas de baralho… “ e é bem por ai mesmo pelo menos para esse sistema as cartas são quase como o coração do jogo, não tenho como focar muito nesse jogo, baixe o playtest, junte os amigos e seu baralho, escolha o clichê (que eu adorei alias) e entre no clima de Violência, Vícios e Volúpia.

http://www.secular-games.com/2011/12/violentina/

 

Esse artigo é uma colaboração de Necrokure.