Acho que é difícil fazer uma review de um game desses. As pessoas sempre esperam que a gente meta o pau quando uma série como Silent Hill, que tem todo um universo criado, resolve ignorar tudo para se reinventar, porém aqui vocês não vão ouvir uma opinião nervosa, muito pelo contrário, pois é um game de qualidade acima da média e ouso dizer que é o melhor da série.
Silent Hill: Shattered Memories é um verdadeiro representante do survivor horror, gênero de jogo consagrado por jogos como Resident Evil e Alone in the Dark, embora sua mecânica de jogo seja diferente de outros títulos do estilo.
Esse título reinventa o clássico Silent Hill, do playstation 1, um game que sozinho começou uma série que teve inúmeros jogos para diversas plataformas (este já é o quarto e ultimo do Playstation 2). Não é um remake, o jogo não tenta ser parecido com o original, ele só usa a cidade e personagens em uma trama totalmente diferente. Na verdade nem a cidade Silent Hill é a mesma, agora existem muitas pessoas vivas, embora você não encontre muitas, pois a cidade está no meio de uma nevasca.
A trama começa do mesmo jeito. Harry Mason bate o carro e quando acorda sua filha Sherry está desaparecida e o incansável “pai coruja” vai fazer o impossível para reencontrar sua filha. O que acontece a partir dai depende do jogador. A inteligencia artificial do jogo cria um game que será perfeitamente assustador para quem está jogando. Não entendeu?! Simples. Pelas suas ações e por respostas que você dá no questionário em uma especie de flashback em uma sessão com um Psiquiatra que aparece muitas vezes no jogo, o ambiente é modificado para você sentir os seus medos na trama. Tudo vai parecer hostil para você, mas um amigo seu que está vendo o seu jogo pode não achar assim, pois tudo está moldado para o jogador e nada mais. Por exemplo, você contará mais ou menos sua vida escolar com perguntas e respostas para o Psiquiatra e quando você for visitar a escola em um dos cenários do jogo, receberá mensagens com valentões de atazanando caso você tenha tido problemas com bulling ou simplesmente uma mensagem de voz de um professor dizendo que você não vai para lugar nenhum na vida caso você tenha respondido algo assim no questionário, então é fundamental que você responda sinceramente e aja como você mesmo no jogo.
Uma das principais mudanças que geram espanto é o fato que agora não é possível eliminar o inimigo. O negócio é correr feito louco, se esconder, jogar objetos, mas nada vai fazer os inimigos desistirem de te pegar. Isso pode parecer um retrocesso, mas é muito mais apavorante e desesperador. Os inimigos, diferente dos outros jogos da série, aparecem em poucas partes do jogo no lugar de sempre estarem em algum lugar e só aparecem no mundo sinistro ou na outra dimensão que você muda entre elas de acordo com a trama, então o fato deles serem invencíveis não chega a ser chato.
Harry conta com um arsenal de uma lanterna, um celular e só. As vezes você pega um chave aqui, mas nada de guardar itens, combina-los, nada disso. É bem simples, pois se pensar bem, o celular é uma ferramenta muito útil. Se você quer gravar um documento, apenas tire uma foto dele, se quer gravar um mapa faça a mesma coisa.
A dimensão paralela ou mundo sinistro deste jogo agora mudou. No lugar de ficar tudo enferrujado, sujo e destruído, agora tudo se congela em tempo real, bem na sua cara. Sim, é menos apavorante, mas pelo menos é mais original.
O mundo do jogo é muito rico e um dos melhores cenários já visto em um videogame. Você nunca terá a sensação que está passando pela mesma sala inúmeras vezes como em vários games por ai com cenário genéricos que só olhando no mapa para você sabe a diferença. Para falar a verdade, os exemplares conservadores da série Silent Hill muita vezes cometem esse erro, mas nesse game as coisas mudaram muito. Primeiro se você vai ficar o jogo inteiro com uma lanterna olhando o cenário e procurando coisas, tem que ter algo legal para se olhar e realmente tem. O cenário é nada mais do que vivo, realmente parece que pessoas estiveram lá, com recados, cartazes e objetos diferentes, dependendo de quem viveu naquele lugar. Se você vai na sala de uma pessoa, vai ver fotos da família dela, recados no mural, livros dos assuntos que ela mais gosta e decoração diferenciada.
A expressão facial está simplesmente excelente. Acho que o Wii e principalmente o Playstation 2 e Psp não verão tão cedo um trabalho tão competente.
O jogo tem uns mini-games ou simplesmente interações visando a versão do Wii. Para você pegar uma chave que está dentro de uma bolsa, acione o botão de ação perto do objeto, vai focalizar na bolsa, assim você terá que clicar no zíper, arrastar para depois pegar a chave dentro dela. Mini-games legais, porém não são assim originais.
Talvez uma coisa que pode não agradar a todos é que o jogo é totalmente guiado pela trama. Tá certo que ainda tem os enigmas de abrir portas, com direito a ler e ouvir mensagens no celular vindas de lugar nenhum de pessoas que você não conhece, que podem ser usadas para resolver problemas ou só para dar um susto mesmo e te deixar perturbado (essas mensagens também aparecem de acordo com seus medos), porém o jogo não tem chefões, nem os cenários gigantes que você deve ir e voltar muitas vezes, pegando uma chave da extremidade do cenário para abrir algo do outro lado e ir progredindo, característica da série que foi abandonada e para isso funcionar, teve uma trama de fundo misteriosa, que mais do que nunca fica entre o sobrenatural e a insanidade. A história é empolgante e constrói um final que “explodir cabeças”. Não que a trama leve o jogo nas costas, na verdade o jogo é um conjunto entre um bom gameplay funcional e uma trama misteriosa e apavorante.
Enfim, não é um jogo para qualquer um, talvez a primeira vista o fato de ficar a maior parte do jogo explorando cenários com uma lanterna, vendo mensagens e procurando fantasmas para tirar fotos possa ser massante, mas para quem está afim de se apavorar de verdade, trocar cueca por fraudas para ter menos trabalho enquanto joga, curte algo diferente e não liga muito para falta de ação, esse é o seu jogo.