“Inevitavelmente, se você se absteve durante toda a sua vida, não sabe realmente o que está perdendo. Mas a sede continua presente, bem fundo, subjacente a tudo.” – Manual do Abstêmio
Apesar de a palavra não aparecer nenhuma vez na sinopse, tudo na capa de “Os Radley” grita vampiros. Tentei manter minha mente aberta e tive esperanças de que eles fossem algo diferente, mas, realmente, os Radley são vampiros. Mas, calma: dê uma chance a esta resenha e a eles.
O casal Peter e Helen Radley, e seus filhos adolescentes, Clara e Rowan, vivem no subúrbio de Bishopthorpe, um pequeno vilarejo inglês, onde nada acontece e todos falam da vida alheia mesmo assim. Sua casa, na Orchard Lane, 17, parece exatamente como todas as outras, mas ao mesmo tempo não parece. É como se tudo fosse muito quieto por ali. Quieto até demais. Você não ouve pássaros. Você não ouve nem os insetos ali.
Dentro da casa, um segredo pesa sobre os ombros de todos os Radley – mesmo aqueles que não sabem desse segredo. Peter e Helen escondem dos filhos sua verdadeira natureza. Rowan não sabe por que não consegue dormir à noite, ou por que sua pele é tão irritada. Clara não entende por que os animais fogem dela, e por que está tendo tantos enjoos agora que está tentando se tornar vegana, para ver se consegue atrair a simpatia dos bichinhos. Quanto ao casal, parece que há uma enorme rachadura entre eles; o relacionamento vai de mal a pior, e Peter se questiona sobre o amor da esposa por ele. Helen mantém firme em sua mente sua própria ilusão de que tudo vai bem, e que a decisão de viverem como humanos normais foi a mais acertada para a família.
É quando um “acidente” acontece, virando a vida de todos de pernas para o ar, que toda a ilusão de Helen se quebra. E, pior: traz fantasmas do passado que ela passou todos esses anos tentando esquecer.
Numa festa, Clara é atacada por um garoto bêbado, que tenta abusar dela. No desespero para tentar escapar, Clara o morde… e prova sangue. Inevitavelmente, isso desperta todos os instintos vampíricos que ela nem sabia que tinha, e acaba matando o rapaz.
E, no desespero de tentar resolver o problema, Peter acaba ligando para Will, seu irmão, um vampiro praticante – e a última pessoa que Helen quer por perto. E então percebemos que, ao que tudo indica, é Helen, entre todos os Radley, aquela que guarda mais segredos…
Matt Haig faz um ótimo trabalho neste livro; dividido em cinco partes – “Sexta-feira”, “Sábado”, “Domingo”, “Segunda-feira” e “Algumas noites depois” –, com capítulos curtos de títulos intrigantes, trechos do “Manual do Abstêmio” (livro de apoio aos vampiros que decidem se abster de sangue) e uma narrativa em terceira pessoa, mas que acompanha diversos pontos de vista da história, Os Radley é um livro fácil de ler, e muito interessante. Não é mais uma história clichê de vampiros, não vai falar sobre as mesmas coisas que você já tenha lido. É diferente, e ganhou meu respeito por isso. Não vou dizer que foi um livro maravilhoso, porque, apesar de tudo, ele não tem nada de excepcional. Mas o diferencial faz valer a pena, então eu recomendo!
Os Radley
Autor: Matt Haig
Editora: Galera Record
Páginas: 431
Preço: R$ 38,00