Jacob sempre teve uma ligação muito forte com seu avô. Quando pequeno ouvia as suas histórias fascinado pelas aventuras e viagens, tanto é que queria ser um explorador profissional quando crescesse, até que um dia sua mãe conversou com ele e cortou o barato do garoto.
Acontece que Abe (apelido de Abraham), o avô, foi uma criança refugiada da Segunda Grande Guerra. Por ser polonês e judeu precisou fugir para longe da perseguição nazista e nisso acabou parando em uma ilha remota do País de Gales, a ilha mágica das histórias.
Nessas histórias do vovô existiam crianças peculiares e monstros perigosos. Jacob acreditava em tudo isso até certo ponto: até seu pai lhe dar uma versão realista do passado do avô e até as crianças da escola lhe apelidarem de “fadinha” por acreditar nisso.
O tempo passou e Jacob tem 15 anos. Não tem muitos amigos, na verdade só tem um, Ricky, o grandalhão que lhe tira de enrascadas. Em uma tarde qualquer ele está no trabalho (uma das filias da drogaria da família da mãe, que é rica e tem empresas em vários cidades) quando recebe uma chamada do seu avô que está agitado procurando a chave de um armário na garagem que tem um monte de armas. Ele vive sozinho em um condomínio e os pais de Jacob pensam seriamente em mandá-lo para um asilo, acreditando que Abe esteja senil pelas ditas lembranças da guerra, e que seja perigoso devido à coleção de armas em casa – poderia ferir a si ou a outros durante um de seus “delírios” com os monstros.
Jacob vai à casa do avô e não o encontra lá. O condomínio está estranhamente vazio, e Jacob acha que viu um homem cego (com olhos brancos) próximo do jardim do vô. Ele percorre a casa e vê o caos: móveis revirados e as marcas da tentativa de arrombamento daquele armário. Tudo indica que Abe foi para o mato atrás da casa. Jacob, que foi acompanhado por Ricky, seguiu o avô. Uma sensação horrível percorria seu corpo e o pior aconteceu: Jacob encontrou seu avô gravemente ferido no mato. Ele lhe sussurra uma série de coisas aparentemente desconexas e morre.
No mato Jacob viu algo estranho: um monstro com tentáculos saindo pela boca. Ricky chegou atrasado, atirou, mas não viu ou atingiu nada.
Jacob foi taxado de louco. Uma onda de pânico o possuiu e ele deixou de sair até do quarto. O terapeuta, Dr. Golan disse que era stress pós-traumático e lhe incentivou a superar isso. Até que o pai e a tia foram esvaziar a casa de Abe. Acharam algumas fotos e Jacob quis se desfazer delas. As palavras do avô não faziam sentido. Os pesadelos eram frequentes e ficavam cada vez piores.
No aniversário de 16 anos, sua tia lhe dá um livro que pertencia a Abe, um livro que estava com dedicatória encaminhada a Jacob. O livro era “Obras selecionadas de Ralph Waldo Emerson”
Não há tempo – sussurrou. Então ergueu a cabeça do chão, tremendo com o esforço, e respirou em meu ouvido: – Encontre a Ave. Na fenda. Do outro lado do túmulo do homem velho. Três de setembro de 1940. – Concordei com a cabeça, mas ele percebeu que eu não tinha entendido. Com suas últimas forças, ele acrescentou: – Emerson… a carta. Conte a eles o que aconteceu, Yakob.
No livro em questão havia uma carta, a carta da Srta Peregrine, datada de 15 anos antes. Agora as pistas dadas pelo avô começavam a se encaixar e uma coisa tinha ficado clara para Jacob: ele precisava visitar o orfanato.
Aí é que começa mesmo a história.
Jacob consegue convencer seus pais da viagem. Seu pai o acompanha para aproveitar e iniciar um novo livro sobre aves – mais um dos muitos projetos inacabados. Mas nem tudo é de mão beijada, não é mesmo?
A ilha Cairnholm é quase completamente isolada do resto do mundo. Só existe um telefone, eletricidade só funciona até às 10 horas da noite, depois disso os motores dos geradores a diesel param de funcionar. Só há uma hospedaria, de poucos quartos. A principal atividade econômica é a pesca. Para chegar ao continente leva cerca de uma hora de barco, mesmo assim as águas eram repletas de naufrágios.
Há um museu na antiga igreja da ilha, onde trabalha o curador Martin. Perguntando sobre o velho orfanato, Jacob descobre que a casa foi bombardeada. A visita não é da mais agradável, há muita neblina e uma charneca pantanosa que pode matar você caso caia e não consiga sair da lama. A madeira está podre e cheira a mofo, algumas paredes sumiram.
Jacob descobre um baú trancado e decide abri-lo. Sem chave, joga do segundo andar para o térreo com esperança de rachar a fechadura enferrujada. O chão cede e o baú fica num porão muito escuro. A sensação de desconforto é grande até que ele ouve passos. Crianças aparecem ali e ele as segue, por fim, torna-se prisioneiro de Emma.
Esse é o primeiro contato com as crianças peculiares. Acontece que essas crianças tem “dons”, Millard é invisível, Emma faz fogo, Enoch cria homunculi, e cada um é dotado de uma peculiaridade. Jacob atravessa com Emma e Millard uma fenda temporal e por mais estranho que pareça, ele está vivendo o dia 3 de setembro de 1940.
A fenda é criação da Srta Peregrine, uma peculiar, uma ymbryne. Com algumas visitas e fazendo amizades com as crianças, Jacob descobre cada vez mais sobre o passado de Abe, das dificuldades que ele enfrentou, que ele foi sim um herói honrado, e principalmente, que os monstros eram reais.
Este é o primeiro romance de Riggs, e devo dizer que ele tem talento. A trama foi muito bem construída, pensada mesmo para encaixar as fotos. Tudo tem um significado e nada foi vão. Não consigo me lembrar de furos de narrativa e para mim o livro de 332 páginas foi pouco, fiquei com curiosidade. Tudo foi explicado de forma simples, para um garoto comum.
Eu imaginava, pelas fotos medonhas, que esse seria um livro de terror. No começo até é assim, mas ele fica mais para o suspense. Algumas reviravoltas de personagens foram surpreendentes, outras nem tanto.
Leitura recomendadíssima!