O Caçador de Sombras – Aodh (Parte 3)

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Fala galera, aqui é o Pedro Borges trazendo a última parte do segundo capítulo do Caçador de Sombras, espero que gostem.

PS: Toda arte presente nesse trabalho é de propriedade do(s) respectivo(s) astista(s) que cederam a(s) imagem(ns) para uso neste post. Os devidos créditos estão no final do texto, para conhecer mais o trabalho do(s) artista(s) clique na(s) imagem(s) e será direcionado para a galeria do(s) mesmo(s)

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O andar suave da carruagem era quase como se flutuasse. Mesmo que vez por outra as rodas encontrassem pedras soltas, quebrando o ritmo do embalar quase maternal que a estrutura proporcionava a seus passageiros. O discreto acabamento externo contrastava com o interior luxuoso de assentos confortáveis e aveludados num tom vermelho sangue. Acabamentos e ornamentos dourados faziam o arremate final entre conforto e requinte. E seguia quase invisível pela penumbra da noite, onde só se escutavam os cascos dos cavalos rumando contra o chão.

No interior dessa sombra errante, três homens e um orc trocavam olhares esporádicos e vagos. Apesar de nunca ter visto um orc tão de perto, Heldorick não se surpreendeu. Na verdade no seu interior ele não se surpreendia com mais nada. Sua vida mudava perante seus olhos e os acontecimentos eram rápidos demais para que seu cérebro pudesse processar.

Antes de entrar na carruagem, a cabeça do garoto fervilhava de perguntas, mas ao abrir a porta e dar de cara com Klaus, a única coisa que suas cordas vocais conseguiram produzir foi um simples “olá”, proferido debilmente. A presença de Klaus proporcionava a Heldorick uma sensação de tranqüilidade que ele não esperava ser mais possível, talvez porque fosse o único fragmento de sua “vida antiga” que ainda restava, e ao qual o garoto se agarrava com todas as forças. De certa forma obter respostas daquele homem seria mergulhar de vez no inferno que sua vida se transformara, apesar de ter certeza plena de que cedo ou tarde deveria encarar os acontecimentos. Por hora se contentava apenas em sentir o toque suave do veludo em suas costas machucadas. Dirigia um olhar vago para o profeta que permanecia calmo e imutável, voltou seus olhos para o orc à direita dele.

Não pensava ser possível haver orcs tão velhos. Geralmente essa raça busca o conflito desde a tenra idade, e quase sempre morrem em combate, poucos anos após atingirem a maturidade. Porém o indivíduo a sua frente possuía cabelos grisalhos, parcialmente encobertos por uma pele de raposa, que juntamente com as folgadas vestes de algodão encardido, pareciam ser os únicos itens que ele portava. Um olhar mais atento denunciou enfim, era um orc lastani.

Os orcs têm um biótipo próprio para o combate, formando guerreiros perigosos, uma vez que em geral são três vezes mais fortes do que um humano normal. Não têm muita afinidade com magia, com exceção de raríssimos indivíduos que se tornam xamãs, o que parecia ser o caso do exemplar à sua frente.

O fato de poderem se reproduzir com praticamente qualquer espécie de animal e de terem um comportamento tribal (se dissolvendo em diversas facções), os marginaliza perante praticamente todas as outras raças e nações de Gálea e de terras além do mar Erfeu, das montanhas Khaal e das secas e elevadas terras do deserto de Matak.

Sua aparência é tão conflitante quanto suas crenças, dialetos e comportamento. Sendo que ao nascer, os bebês carregam em seu corpo os traços raciais de seus pais, sejam eles da mesma espécie ou não. É muito comum acasalarem com bovinos, cabras, bodes e porcos, gerando indivíduos de intelecto muito baixo e extremamente selvagens, com rosto e corpo portando características mais bestiais. Quanto a meio-orcs(seres gerados do cruzamento com uma raça civilizada), os mais comuns são os meio-orcs humanos e elfos, sendo estes bebês quase sempre resultantes de um estupro.

Apesar do visível estigma maligno que todos carregam, algumas qualidades de orc certamente não o merecem. Como é o caso dos lastani, que apesar de serem classificados como orcs, guardam poucas semelhanças com eles.

Teorias apontam que os lastani surgiram do cruzamento de meio-orcs com o já extinto povo lagarto que habitava as florestas de Séfora, muito antes dos humanos povoarem o norte de Gálea. Os lastani ainda têm o tom verde de pele, porém muito mais pálido do que se encontra nas demais raças de orc. Os dentes cabem perfeitamente na boca e o rosto possui traços muito mais suaves do que em seus “primos distantes”, com o nariz lembrando um pouco a parte frontal de algumas espécies de répteis, além de possuírem cauda e se organizarem em cidades, com funções bem definidas dentro de sua sociedade.

Mergulhado em análises e recordações de suas aulas de bestialogia, Heldorick adormecia aos poucos caindo por fim num sono profundo.

— E então Mutab… Vai dar certo?!

— Mutab não saber ainda…

Heldorick acordava aos poucos, em meio a vozes se via agora deitado sobre o assento enquanto era examinado.

— Mas o que está acontecendo aqui?! Levantou aflito

— Sinto mucho chiquito, mas teremos que tirar fora tus huevos.

— O que?!

— Calma Hel, vai ficar tudo bem, mas você precisa se acalmar por favor.

— Ficar tudo bem? Ficar tudo bem?! Me diz como vai ficar tudo bem Klaus! Minha vida acabou! Meu pai me quer morto! De uma hora pra outra eu não sei sequer o que vou comer, pra onde vou fugir, nada! E tudo isso é culpa sua! Sua e dessa ordem maldita que todos falam mas eu não sei o que eles têm de tão especial! Não sei ao menos porque segui esse maluco de chapéu, eu quase fui morto!

— Esto es muy rude de tu parte chiquito.

— Cale-se! Chega! Parem a carruagem!

— Moleque não dar mais ordem, ninguém mandar aqui

— Disse o velho orc sentado enquanto tragava um cachimbo.

— E você hein?! É você que manda aqui?! Vamos, me diz!

— Garoto por favor não segurar Mutab tão forte. Garoto ter braços fortes, machucar mutab.

E no meio do seu ato de fúria Heldorick mal havia notado, mas seu braço direito antes decepado, estava perfeito sem nenhuma marca ou cicatriz.

— Mas… Como?!

— O mal da raça humana é acreditar na tolice dos outros povos. O dito “orc não civilizado” à sua frente tem mais conhecimentos sobre medicina do que qualquer médico que você já tenha visto em Darkah. Foi ele quem “consertou” o seu braço.

— Me desculpe…

— Tudo bien chiquito, Frey es una persona de mucha luz. Yo te perdono.

— Eu sei que as coisas parecem um pouco confusas agora, mas sente-se e eu lhe contarei tudo. Como se sincronizasse com a voz de Klaus a carruagem para de repente. O cocheiro grita:

— Já chegamos senhor Klaus!

Um salto para fora da carruagem e os olhos não são suficientes para captar tamanha grandeza. Um templo imenso, esculpido na pedra, aparentemente em ruínas, mas indiscutivelmente belo, oculto pelas altas árvores que o cercam, em perfeita harmonia com o cenário, como se sempre estivesse ali.

— É enorme…

— “O Aodh chega à cidade de pedra. E onde as águas são negras, choverá sangue…”

— O que disse Klaus?

— Ah, nada… Seja bem vindo à ordem dos profetas de Galateah.

***

É isso aew galera, muito obrigado por lerem. Divulguem e comentem, sua opinião é muito importante.

Gostaria de agradecer à Livcat que sofre fazendo revisão dos meus textos, também à Gislany e ao Luiz que me dão sempre aquela força pra escrever, valew mesmo galera.

Agradecendo também a:

Stonewurks

Pierrick

MO-ffie

Por me emprestarem suas ilustrações, verifiquem a galeria deles no Deviantart

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O trabalho O caçador de sombras – A lenda de Heldorick de Pedro Borges foi licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição – NãoComercial – SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em pedro.2.3@hotmail.com.