Acredito que, dentre as criaturas da mitologia japonesa, talvez uma das mais conhecidas seja o Tengu, uma criatura bípede, de rosto vermelho, com penas e um nariz comprido. Você já deve ter visto alguma referência a esta criatura em algum jogo ou anime, nem que fosse apenas uma máscara o representando.O Tengu pertence à mitologia xintoísta, as vezes é tratado como um Kami (deus), outras como um Youkai (demônio), isso depende do conto e da região. Apesar de pertencer a uma religião japonesa, sua origem é, possivelmente, chinesa – o nome Tengu é uma variação do nome “Tien Kou” (cão celestial), que é uma criatura mitológica chinesa. Porém existem aqueles que acreditam haver uma relação entre o Tengu e Garuda, uma divindade do Budismo.
Existem dois tipos de representação do Tengu:
- Karasu Tengu – Possui uma cabeça de corvo e um corpo humanoide.
- Konoha Tengu ou Yamabushi Tengu – Possui feições humanas, um longo nariz e as vezes carregando um leque de penas.
Os Tengu possuem diversas habilidades mágicas, entre elas, a capacidade de se transformarem em qualquer coisa, teletransportarem-se, e de penetrarem sonhos.
O Tengu aparece em muitos contos no Japão, e alguns podem ser verídicos por conterem personagens reais. Em algumas historias é citada a incrível habilidade marcial destas criaturas, sendo a história mais conhecida a do guerreiro “Minamoto no Yoshitsune”, que foi treinado por Sojobo, o rei dos Tengu.
O comportamento do Tengu segundo os contos populares também foi sofrendo mudança com o tempo, de criaturas malignas e traquinas que sequestravam crianças e monges, a protetores de templos e até guias espirituais para os monges.
Em alguns festivais no Japão é possível encontrar pessoas usando mascaras com a face de um Konoha Tengu durante as cerimônias.
A lenda
Neste post farei diferente do anteriores, ao invés de colocar um conto antigo com o Tengu, resolvi colocar algo mais atual, um conto escrito por Cláudio Seto.
“Antigamente as florestas japonesas eram habitadas por criaturas chamadas tengu. Eram gênios da montanha com aparência humana. Uma de suas características era que tinham um leque mágico e à medida que abanava, seu nariz ia crescendo.
Nessa época, morava no alto da montanha um tengu vermelho chamado Vermelhão e um tengu azul chamado Azulão.
Certa ocasião, os dois sentados em cima de um enorme pinheiro, no pico da montanha, conversavam na maior descontração.
– Sabe amigo Vermelhão, estive pensando… Nós ficamos todos os dias daqui de cima, observando os seres humanos lá embaixo.
– É verdade amigo Azulão.
– Será que nós tengu gostamos de observar os seres humanos, amigo Vermelhão?
– Sei lá amigo Azulão, nunca pensei nisso. Observamos os humanos porque todos os tengu fazem isso.
– É verdade amigo Vermelhão.
– Amigo Azulão, quanto tempo faz que observamos eles daqui de cima?
– Acho que uns quinhentos anos, amigo Vermelhão.
– Os homens mudaram muito durante esse tempo, mas nós não mudamos nada – observou o tengu vermelho.
– Vira e mexe, eles constroem cidades, depois brigam e destroem. Depois constroem de novo, um pouco diferente, depois brigam e destroem. Vale dizer que de guerra em guerra, eles vão mudando um pouco e hoje estão completamente diferentes de quinhentos anos atrás – comentou o tengu azul.
– Acho que já sei amigo Azulão, temos que brigar e xingar. Nós nunca brigamos nestes quinhentos anos de convivência, por isso que nós estamos sempre na mesmice.
– Mas brigar para quê, se somos bons amigos? Para nós tengu, briga e guerra são coisas totalmente desnecessárias.
– Pois é, nunca brigamos, por isso nunca progredimos!
– Está bem, vamos brigar então.
Assim, imitando os humanos, um passou a xingar o outro e ficaram de mal.
Certo dia Azulão estava, como de costume, observando as pessoas. De repente, viu alguma coisa muito bonita lá embaixo no castelo. Como ficou com vontade de tocar no belo objeto que via ao longe, começou a fazer vento no nariz com seu abanador mágico. O nariz começou a crescer, a crescer e foi crescendo na direção do castelo. O nariz atravessou rios, montes, ruas e muros do castelo, e passou em um quintal, onde uma criada estava estendendo formosos kimonos de uma princesa para secar. Distraída, a criada pendurou o kimono no nariz do tengu, pensando que era a vara de secar roupas.
Assustado com o repentino peso sobre seu nariz, o tengu recolheu seu nariz, abanando ao contrário. Como os kimonos estavam presos por grampos, foram levados para as copas das árvores. O tengu vermelho chegou no local para observar e perguntou:
– Quantos kimonos bonitos, como conseguiu?
– Alonguei meu nariz até o castelo, aí penduraram vários presentes. Vou te dar a metade.
– Não quero, estamos de mal, lembra-se? – dizendo isso Vermelhão foi para outro lugar.
Na verdade o tengu vermelho ficou com inveja de Azulão e resolveu fazer o mesmo.
– Eu também quero roupas bonitas. Vou alongar meu nariz até o castelo!
E assim, Vermelhão foi abanando e abanando seu nariz, até que esse atingisse o castelo. Alguns samurais praticavam kenjutsu, a arte do manejo da espada. Vendo aquele nariz avançando na direção deles, não tiveram dúvida, cortaram aquela coisa estranha que mais parecia uma cobra cega.
Vermelhão ao sentir uma dor aguda, recolheu o nariz mais do que depressa.
Azulão se aproximou do colega e perguntou o que havia acontecido. Vermelhão chorando de dor contou a tragédia.
Azulão, penalizado, disse novamente para Vermelhão não chorar mais e deu metade dos kimonos para ele. Assim os dois viveram em harmonia por mais quinhentos anos.”
fonte: http://www.alunos.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=605
Na Cultura pop
Abaixo, algumas referências ao tengu na cultura pop:
Tengu Buranchi do anime e mangá “Toriko”, além do nome, sua aparência é baseada em um tengu.No jogo de luta, “Art of Fighting”, e na serie de jogos “King of fighting”, o lutador chamado Mr. Karatê usa uma mascara de Tengu.
No jogo “Dead or Alive 2”, o ultimo inimigo a ser enfrentado é um tengu.No Anime “Gugure! Kukuri-san”, um dos personagens é um tengu.No tokusatsu “Jiraya”, entre os vilões estão os Karasutengu, que são baseado nos tengus.Ir para o índice.
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