Talvez um dos serial-killers mais famosos da ficção literária, Hannibal Lecter finalmente recebe uma releitura moderna – mas dessa vez na forma de seriado. Desde o lançamento do livro Red Dragon (Dragão Vermelho, 1981) Lecter tem sido referência de suspense policial e thriller psicológico característicos de Silêncio dos Inocentes (1988) e Hannibal – a origem do Mal (2007). Mas será que um psicopata como ele teria espaço ao lado de grandes estrelas atuais, como Dexter (Dexter) e Joe Carroll (The Following)?
Dr. Lecter é, sob a pele de cordeiro, um inteligentíssimo psiquiatra de brilhante carreira. Talvez um pouco reservado e eclético, ainda assim muitos diriam que é mera parte de sua personalidade observadora e atenta. Tem profundo interesse pela culinária, fazendo questão de cozinhar ele próprio todas suas refeições da maneira mais requintada possível. Misterioso e magnético, muitos o descreveriam até como sendo sedutor. Se esse é o cordeiro, imagine as vestes do leão.
Clarice Starling: “Senhor, se você não o matou, quem o fez?”
Dr. Lecter: “Quem sabe? Melhor coisa que o aconteceu, pra ser sincero. Sua terapia estava indo a lugar algum.”
Silêncio dos Inocentes (1988)
Hannibal é um serial-killer cuja assinatura é o canibalismo. A maioria das suas mais refinadas criações culinárias são baseadas em órgãos nobres como cérebro, pulmões, coração e fígado. Na sua profissão costuma preferir pacientes com personalidades psicóticas e, como um pastor, favorecer o desenvolvimento completo de seus traços psicopatas, deliciando-se na sua análise. Os traços profundos de sua personalidade são incertos, já tendo sido chamado de um “Psicopata Puro”, tamanha a sociopatia aliada à perfeita metodologia de disfarce. Todavia isso é o que acabamos conhecendo nos filmes, enquanto na série tomamos um caminho um pouco mais lento e misterioso ao saborearmos a personalidade complexa do protagonista.
Na versão atual, começamos não com Lecter (Mads Mikkelsen) mas com Will Graham (Hugh Dancy), um perito criminal caçador de serial-killers, ele próprio possuidor de traços peculiares. Munido de uma memória fotográfica e uma incrível capacidade de raciocínio aliada a um profundo senso de empatia, Graham sofre com os custeios dos seus poderes: deve evitar aproximar-se demais dos criminosos que estuda, pois corre o risco de perder a perspectiva nessa conexão. Por interagir profundamente com as evidências e com as formas de pensar das pessoas que investiga, Graham é particularmente sensível às fortes emoções partilhadas pelas vítimas. E é aí que mora o perigo: afinal de contas, nunca se sabe onde realmente fica a tênue linha entre o gênio de caça o mal e próprio gênio maligno. O assassino que ele investiga caça mulheres de um biotipo específico, com uma metodologia brutal: empala-as em chifres de veado. A investigação toma um caminho adequado, todavia tudo começa a ficar mais complicado quando um copycat copia a metodologia do assassino, adicionando porém um tempero próprio: alimentando-se de órgãos da vítima.
Se eu acho que você deve assistir? Sem dúvida alguma. Inicialmente o seriado aborda o lado de Graham como um investigador de personalidade peculiar e sujeito a dramas profundos, enquanto o Dr. Lecter fica em segundo plano observando e analisando o desvelar da trama – mas não sem dar seus toques de mestre para direcionar o investigador no caminho que julga interessante. Sou suspeito pra falar da qualidade, sendo eu fã da temática e do personagem, mas 2013 tem sido um ano muito fértil para seriados até agora – se eu fosse você não deixaria de baixar o piloto, ironicamente chamado “Apéritif”.
A série teve início em abril desse ano, com o terceiro episódio saindo amanhã (18). Comece a assistir antes que os spoilers rolem colina abaixo! E ah, uma sugestão final: mesmo que você esteja confiante nas suas habilidades com a língua inglesa, recomendo baixar as legendas, em PT ou EN. Vários diálogos de extrema importância acabam requerendo nossa atenção; perdê-los seria uma blasfêmia contra um texto tão bem costurado!