Sou assinante e leitor da revista PCGAMER já há alguns anos. Em todas suas edições (que são mensais) existe uma tabela onde eles colocam os jogos mais legais do momento em várias categorias como “Atirar em alguma coisa” ou “Ter uma aventura”. Uma delas chama-se “Ter uma vida online” e há muito tempo o único jogo que aparecia alí era World of Warcraft. Em agosto do ano passado o jogo MMO escolhido pelos editores mudou para Guild Wars 2, e tem se mantido assim desde então. E isso é praticamente uma revolução.
Tirando de lado o ódio que fãs hardcore de um e outro jogo sentem um pelo outro, o fato é que Guild Wars 2 foi um marco na história dos Massive Multiplayer Online Role-Playing games, assim como WoW foi na sua época. Não é a toa que desde o lançamento do jogo produzido pela Blizzard Entertainment, os games do gênero acabaram seguindo um certo padrão Warcraftiano. Mas isso acabou com a releitura do gênero trazida pelo título da ArenaNet.
GW2 veio com uma proposta totalmente diferente para o gênero do MMO. Começaram banindo completamente a conhecida “Santíssima Trindade” do Tanker/Healer/DPS, ou seja, os papéis muito específicos – agora todo mundo consegue curar, mitigar dano ou dar dano. Essa atitude foi extensamente discutida ao longo da espera até seu primeiro beta aberto, e ainda hoje o resultado é questionado por muitos. Pessoalmente, senti que pela primeira vez joguei um MMORPG de verdade. Como diria um amigo australiano: “É a mesma coisa que ler Senhor dos Anéis e esperar que todos os Orcs só ataquem o Boromir, que o Aragorn não atraia a atenção de ninguém ficando girando a espada contra um inimigo. Enquanto isso o Galdalf fica atrás jogando magias repetidamente. Isso não faz sentido.” A santíssima trindade é exatamente isso, acaba com qualquer senso de realidade: o jogo que seria um RPG torna-se um amontoado de números de aggro e acionamento de botões em momentos específicos. Perde-se então aquela sensação de viver na pele de um personagem em um mundo distante, o velho Role-playing, que os designers de GW2 insistiram em priorizar na experiência de jogo.
“Na maioria dos jogos você sai por aí e ocasionalmente tem tarefas divertidas, que você pode optar em fazer. Mas o resto do jogo é esse grind chato até chegar na parte divertida. – “Eu ataquei com a espada, eu ataquei com a espada novamente, HEY eu ataquei novamente!” Isso é ótimo [tom irônico]. Nós não queremos os jogadores fazendo grind em Guild Wars 2, ninguém gosta disso, ninguém acha isso divertido. Nós queremos mudar a forma que as pessoas enxergam o combate.”
Colin Johanson (Game Designer)
Além do seu sentido revolucionário em termos de experiência de um MMO, Guild Wars 2 faz o possível para que ela se torne o mais social possível. Eventos Dinâmicos são como grandes missões que aparecem no seu mapa (e de todos a sua volta) como um grande chefão, uma invasão de centauros ou uma festa regada a vinho, que todos podem participar ao mesmo tempo. Se você acha que isso só começa no level 80 está muito enganado: tudo começa desde o level 1. E falando nisso, você pode ter um personagem de nível alto e ainda assim jogar com seu amigo que acabou de começar: o sistema de nivelamento de level faz você ficar mais-ou-menos no nível dele para jogarem juntos sem você se tornar um rolo-compressor de creeps novatos.
O título da ArenaNet tem muitas outras características, como a história principal linear como num livro, cheia de diálogos com voz e arte magnífica – é realmente uma experiência à parte no gênero. Mas uma das informações técnicas que não pode faltar é que não há mensalidade: você compra o jogo e automaticamente tem acesso ilimitado, inclusive a vários add-ons futuros. Se você é uma daquelas pessoas que tomou asco pela política pública das empresas de games modernas, realmente deveria experimentar Guild Wars 2.
A verdade é que o jogo é simplesmente extremamente divertido. Desde o início até a hora que você cansar, os produtores conseguiram manter um senso de diversão, risco/recompensa e tudo isso misturado com muita interação. Lembro do primeiro beta semi-aberto ao qual fui convidado e que, lá pela terceira hora de jogo, cruzei com um grupo de jogadores que estavam sentados em algumas termas num território gelado. Todos estavam de roupa de baixo e eu (com um elementalista) ao cruzar com eles fui prontamente chamado: – “Hey elementalista” disse um deles “jogue uma parede de fogo para aquecer essa água, tá esfriando”. E esse foi o início de uma proveitosa jornada com um grupo de desconhecidos por todo o final-de-semana de beta, onde representei um Elementalista Norn que servia mais para aquecer as pessoas em uma montanha gelada do que pra matar inimigos!
Acredito que essa seja a grande mensagem que a ArenaNet tenta trazer: interpretar um personagem junto com outras pessoas, simplesmente para aproveitar umas duas horas e desestressar depois do trabalho possa talvez ser mais divertido do que ter um personagem fodão cheio de itens destruidores fruto de muito esforço e horas de jogo. Talvez. A única pessoa que pode ter certeza é você!