O tema que envolve esse livro de Rainbow Rowell – considerado por alguns leitores como o mais fraco da autora – não é de todo desconhecido para quem já frequenta o Putzilla há algum tempo. Já gravamos um podcast, o finado Radio CultCast, sobre fanboys e fangirls, e também já temos no arquivo um texto sobre shippers.
Fangirl, como o nome sugere, é uma história não só sobre ser fã, mas ser engajada a tal ponto que consumir todo material disponível deixa de ser suficiente e você precisa tanto continuar naquele universo tão adorado por você que de repente você se vê usando a criatividade para começar a fazer parte do mesmo. Alguns shippam, outros desenham, muitos confabulam sobre crossovers, e mais gente ainda se dedica às fanfics.
Temos pelo menos dois casos bastante conhecidos de fanfiqueiras que deram tão certo que venderam milhões: estou falando de E. L. James, autora da série 50 Tons de Cinza, e de Cassandra Clare, autora da série Cidade dos Ossos.
Cath não é muito diferente delas duas. Fã de carteirinha de Simon Snow, ela começou a escrever algumas histórias em um fórum e de repente ela tem milhares de cliques e é super conhecida no fandom. Assim é no final do ensino médio e assim continua quando ela está começando a faculdade. Mas, se antes ela tinha todo o apoio de sua irmã gêmea, que geralmente fazia o papel de beta reader, agora ela tem que lidar com o mundo novo e real da faculdade, que incluem novas pessoas – destaque para sua colega de quarto Reagan – e situações inusitadas.
A vida de Cath não é um comercial de margarina. A mãe abandonou a família quando Cath e Wren ainda eram muito pequenas, desde então o pai tem feito tudo possível para dar uma vida confortável e amorosa para as filhas. Ele ficou muito abalado com o divórcio e Cath se preocupa muito com sua saúde, até porque quando ele entra em modo on fire no trabalho acaba esquecendo das necessidades básicas, como comer, por exemplo. Esse é um dos motivos para que Cath fique tão resistente a ir para a universidade e sair de casa, nisso, ela espera ser compreendida e ter o apoio da irmã, mas isso é algo que ela vai ver que nem sempre é possível.
A impressão que passa é que Wren não via a hora de se separar da irmã, ter um quarto só para ela, não precisar dividir os amigos e nem mesmo a paixão por Simon Snow. Surpreendentemente, é em Reagan que Cath acaba encontrando ajuda nesse momento de transição. Reagan é o oposto de Cath e chega a assustá-la no início, mas as coisas acabam dando certo para as duas, mesmo quando entra na relação o ex-namorado (e ainda amigo) de Reagan, Levy. Sentiram o cheiro do triângulo amoroso? Haha!
Todo enredo gira em torno dessa mudança de Cath, e a irmã, e das consequências que as suas escolhas trazem. A transição da adolescência para a vida adulta, marcada por essa chegada na universidade e o preconceito que esbarra em Cath por ela ser fã de uma série que marcou a infância de muitos daqueles que também estão lá mas que acham que isso deve ficar no passado, e pior, que seu trabalho criativo com a fanfic de Simon Snow não pode ser considerado literatura, foram pontos que me marcaram muito durante a leitura. Chamo ainda atenção para as aulas com a professora Piper, especialmente quando elas discutem sobre fanfics!
Se tem uma coisa que eu lamento é que não exista de verdade uma série de Simon Snow. Eu acredito que iria bombar porque pelos trechos da fanfic que aparecem ao longo do livro, eu fiz muitos paralelos com outra série super conhecida: Harry Potter. Outra coisa que me deixou com vontade de quero mais: a fanfic de Cath. Queria que existisse online para eu poder ler tudo, tudinho mesmo, só aqueles pequenos trechos são de matar qualquer pessoa de curiosidade.
Se recomendo a leitura? Claro! Ainda mais se você ainda não conhece nada da autora. Foi ótimo ver as críticas que comparavam Fangirl com Eleanor & Park pois fui com a expectativa baixa e fiquei muito empolgada com a leitura.
Rainbow Rowell tem uma escrita muito gostosa, com certeza vou ler tudo o que ela escrever. Foi ótimo ver o crescimento das personagens, o amadurecimento e a verossimilhança com que o tema foi tratado. Os outros livros dela já estão na fila!